domingo, 11 de abril de 2010

A mente, o balde e o navio



No grande commentario Madhyamakavatara, Chandrakirti explica poeticamente que a vida dos seres sencientes (nossa vida e a de todos os seres com mente) é como um balde subindo e descendo dentro de um poço sem parar. Pelo peso de nossas ações negativas descemos rapidamente e sem esforço a estados mentais inferiores e em ultimo caso a próximas vidas inferiores. O difícil é subir, requer esforço, não vem fácil e o balde está pesado. Ou seja, karma negativo (ações negativas) vem sem esforço, é simples e natural, é espontâneo e acumulamos muito dele momento após momento com ações de corpo, de palavra e de mente. Como Einstein já dizia TUDO gera um resultado, nenhuma ação por mais aparentemente insignificante termina em si mesma, e no caso, ações geradas por nós mesmos geram resultados em nossa própria mente, em nossa vida ou no que nos afeta diretamente.

Segundo Buddha Shakyamuni a potência do karma cresce com o tempo se não for examinada e purificada através do sincero arrependimento e voto de não mais repetir tal ação. Outra característica do karma é sua não linearidade, ou seja, o que é plantando hoje não necessariamente brota hoje, pode brotar daqui dez anos, dez vidas, meia hora, cinquenta anos, depende quando as condições necessárias para tal ação negativa (ou positiva) se aglomerarem. Por isso o choque quando ocorre algo negativo com nós, não sabemos de onde vem, o porque e nem achamos por nada neste mundo que geramos as condições para tal acontecimento nós mesmos, no passado distante ou não tão distante. Depois do choque então vem a busca do culpado e infelizmente durante este processo de colheita de karma negativo ou de sofrimento, geramos mais ações negativas através da raiva. E assim o ciclo se perpetua, o nosso balde vai ficando pesado.

Primeiro então devemos refletir sobre nossa condição dentro deste ciclo, com sinceridade, analisar, pensar, nos vermos com clareza na situação de desconforto na qual estamos e gerar compaixão por nós mesmos, querer verdadeiramente sair deste ciclo de ações e reações negativas. O próximo passo é mover esta compreensão a todos os outro seres, pessoas, animais, seres que não enxergamos etc. (meu amigo brinca que isto inclui motoboys, o chefe...). Ter compaixão por si e compaixão por outros são como os dois lados de uma mão. Inseparáveis. Um não vem sem o outro. Cria um bem estar.

Mas, como temos mais tendência a abraçar o negativo e menos familiaridade com mentes positivas (verdadeiro amor, compaixão, altruismo, serenidade etc), devemos criar o habito de uma prática correta que nos direcione pouco a pouco na direção oposta. Como Ven. Lama Michel diz, a mente é como um grande navio, para mudar de direção requer muito esforço e é lento, mas uma hora vai!