quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Retiro


Acho que foi Lama Yeshe que disse que ´um retiro é tão duro quanto você mesmo`. Existem muitos livros e textos sobre como fazer retiro e como superar as dificuldades de um retiro mas o melhor conselho que já ouvi veio de Lama Gangchen que simplesmente disse “relaxe”. Esta palavra pequena pode ajudar muito durante 11 horas de meditação diárias. Outro pensamento que ajuda, é sentir e pensar sobre o fato de que é o retiro que faz você, e não você que faz o retiro.
Cristine Skarda, uma monja, scientista e filósofa diz sobre fazer retiro: “Esta é a coisa mais importante que você já fez. É a coisa mais importante que você pode fazer. Nunca desista.” Durante um retiro intensivo e tradicional é possível colher alguns frutos preciosos e guardá-los no seu campo interior para que algum dia amadureçam e sejam de utilidade para outros. Uma Lama Americana que não me lembro o nome fez um retiro de 3 anos e disse que o que mais aprendeu foi ser humilde perante os grandes praticantes realizados do passado e do presente, depois que constatou o verdadeiro estado aflitivo de sua própria mente durante o longo retiro. Cristine Skarda conclui que durante o retiro “você não esta tentando fugir do mundo, mas se preparando para abraçá-lo completamente”.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Como o Karma funciona


Chandrakirti, que escreveu o suplemento para o Caminho do Meio explica algo muito interessante:

Que não existe uma mente que seja a base-de-tudo.

Os Yogacarins acreditam que esta mente existe e que ela de fato ´guarda` as sementes de todas nossas ações, nossos karmas. Como uma espécie de cofre, fixo e imutável. A lógica dos Yogacarins segue que para uma ação ter um resultado, deve haver uma mente constante que conecte solidamente uma ação a seu resultado. Como um barbante amarrado ao começo de algo e que termina no fim de algo, uma cola, uma ´mente base-de-tudo`. Caso contrário o resultado não aconteceria, especialmente em casos onde o resultado de uma ação ocorre anos ou até vidas depois do karma inicial.

Chandrakirti diz: uma semente karmica se desintegra no momento em que é acumulada e esta desintegração gera outra desintegração e assim por diante até o efeito maduro e final daquela ação (karma) inicial ser produzido. (momento para pensar).
Como é este processo?
1-primeiro, uma ação virtuosa é feita (isto é o karma, positivo no caso)
2-esta ação se desintegra deixando uma semente karmica na mente.
3-a semente em sí se desintegra e abre uma sequência de desintegrações.
4-que são os efeitos da ação virtuosa mas não o efeito primário, principal.
5-esta sequência continua até que o efeito primário é produzido onde então o efeito é exhaurido.

Por exemplo, a ação primária de ajudar a velinha a atravessar a rua gera uma série de causas e efeitos que terminam no resultado final de ser ajudado de alguma maneira tambem.

Ou seja, não é que a ação (karma) principal fica guardado sem nunca se modificar até o momento de gerar um resultado. O karma vai se transformando de acordo com a lei de causa e efeito. Do mesmo jeito que um feto vai se transformando, se desintegrando até a morte desde o momento da concepção. A morte é o resultado do nascer. O efeito é o resultado final da causa.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

a montanha

By sitting very still –
The mountain comes to you.


(Geshe Michael Roach-durante seu retiro de 3 anos terminado em 2005)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Karuna

A origem da palavra Compaixão vem do Latim, Compati, que quer dizer mais ou menos "sofrer junto" ou ter pena. No Budismo, compaixão baseada na pena é parecida com compaixão baseada no apego, é algo instável e desequilibrado. A verdadeira compaixão (ou karuna) é baseada em um sentimento de equanimidade por todos os seres e se trata de uma qualidade mental que não gosta e não quer que os outros sofram. A compaixão é a aceitação clara de que todos somos iguais no sentido de estarmos dentro do samsara e por isso todos merecem o nosso amor e cuidados independentemente se nos fizeram mal ou não. A compaixão é abrangente, baseada na razão e livre do apego. A compaixão é gerada através da correta realização da natureza impermanente da realidade, da compreensão do sofrimento e da vacuidade.
A compaixão demarca limites dentro da sociedade, alguém pode se tornar muito rico vendendo armas ou drogas e de um ponto estritamente financeiro estão corretos, mas causam danos enormes a milhares de pessoas e muito mais a si próprios. Com uma apreciação maior do valor humano, todas as atividades se tornam positivas. A compaixão é a base da ética do Budismo Mahayana e o portal de entrada do Bodhisattva. A compaixão é cultivada pouco a pouco junto com a sabedoria, não é fácil, não é óbvia, não nasce de um dia para outro mas pode ser treinada minuto a minuto.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Lam rim

"Uma afliçao mental é definida como um fenomeno que ao surgir nos perturba"
(Asanga)

A experiência de insatisfação da existencia cíclica tem suas causas - as aflições (atitudes perturbadoras e emoções negativas) em nossa mente. Pense no exemplo das seguintes aflições em sua vida:

1.apego: quando exageramos ou projetamos as qualidades boas de um objeto ou pessoa e nos apegamos a ele/ela.
2.raiva: quando exageramos ou projetamos as qualidades ruins de um objeto ou pessoa e desejamos ficar longes ou até mesmo machucar o objeto.
3.orgulho: um senso inflado de nós mesmos que nos faz sentir melhor ou pior que os outros.
4.ignorância: falta de clareza para com a natureza das coisas e sobre a natureza da realidade, sobre o karma e seus efeitos.
5.dúvida errada: duvidas tendendo a conclusões incorretas.
6.pontos de vista distorcidos: concepções erradas, que são:

-Acreditar que o ´eu` e o ´meu` existem por si só, independentes de causa e efeito.
-Acreditar no eternalismo (tudo, inclusive eu vou existir para sempre sem mudar) ou no niilismo (depois da morte não existe nada, eu vim do nada e vou para o nada).
-pontos de vista distorcidos: negar a existência de causa e efeito, renascimentos, da iluminação e das três jóias.
-manter pontos de vista distorcidos como supremos: pensar que as visões acima são as melhores
-manter a má ética e forma de conduta como suprema: pensar que açoes não éticas são éticas e que práticas incorretas o levarão a illuminaçao.

Para cada uma das aflições mentais considere:

-Como ela lhe causa problemas agora através da interpretação não realista de eventos na sua vida?
-Como ela lhe traz futuro sofrimento gerando as causas ou o karma negativo?
-Que antídotos você pode usar quando surgirem em sua mente?
-Qual é a aflição mais forte em você? Tenha então uma aspiração forte de estar alerta para neutraliza-la quando surgir.

Conclusão:
Vendo o estrago que tais aflições mentais causam em sua vida, desenvolva a determinação de estar consciente do surgir delas e aprenda a praticar os antídotos. Se for raiva, pratique a paciência, se for orgulho pratique a humildade, se for ignorância, vá trás de sabedoria e assim por diante. O lado positivo temos que aprender, o lado negativo já vem bem instalado dentro de nosso computador interior, não precisamos nos esforçar para ter raiva afinal...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Lenchak

Lenchak em Tibetano quer dizer débito karmico.
Quando temos relacionamentos difíceis, de muito apego e expectativa, mas ao mesmo tempo amor e carinho pela pessoa, e é tudo muito complexo e nada simples e claro. Isto é Lenchak.
Existe um tranco emocional quando vemos ou pensamos na pessoa, normalmente alguém próximo, filhos, pais, amigos íntimos, chefes - todas as relações onde existe muita expectativa e demandas silenciosas que nos fazem sentir responsáveis pela solidão e dor física e emocional do outro.
Len quer dizer: ocorencia e chak: apego ou atraçao, ou a sensação de que algo nos puxa para alguém, normalmente de uma maneira insalubre. Pode ser entendido como resíduo que nos visita de uma dinâmica antiga, de relacionamentos antigos, de uma vida passada. Uma dinâmica que agora é forte devido a familiarização e ao habito.

Nos infernos Budistas, dizem que o ser ouve a voz de alguém conhecido e imediatamente vai nessa direçao, encontrando criaturas horrendas e muita dor física e mental. Isto é interessante porque com aqueles com quem temos Lenchak, sentimos um dever de ´ir`, como se estivéssemos sendo puxados, algo fora de nosso controle ou senso de resistência. Não queremos ir, mas TEMOS que ir. Nosso nome é chamado e saltamos imediatamente para servir-los. Esta não é uma decisão consciente -nem uma decisão alegre- mas mais como ser arrastado por um vento muito forte. Nossa reação, seja ela de raiva, inveja, apego ou o que for, serve somente para fortalecer a dinâmica. Pessoas tem feito muito ´em nome do amor`. Mas se isto é amor, não é uma forma saudável de amor.

No Tibet dizem que existe um lago, que durante uma lua cheia específica de cada ano, focas oferecem peixes com suas bocas para corujas que ficam nas árvores acima do lago, esperando comer. Não existe razão especial para as focas fazerem isto, somente que as corujas o esperam. A historia diz que as focas não ganham nada com isso e as corujas nunca estão satisfeitas. Como não existe razão óbvia por esta dinâmica, os Tibetanos dizem, "deve ser Lenchak".

A dinâmica Lenchak tem dois lados, o lado da foca e o da coruja. Se somos a foca, sentimos uma responsabilidade silenciosa emocional pela mente e bem-estar de outra pessoa. Somos puxados a ela, como se fosse nosso dono. É uma experiência forte e visceral, e temos uma reação física imediata. O telefone toca, vemos quem é, “é a coruja”. Temos que atender e somos atacados por uma onda de ansiedade e repulsão, como se estivéssemos sendo atacados por nosso sistema nervoso. Nos preparamos para um problema ou um ´download` emocional forte. Por mais que desejamos nos desconectar desta pessoa não conseguimos nos libertar, somos capturados. Checkmate!

Isto não é o caso, na verdade somos presos por nosso próprio apego, culpa e inabilidade de resistir a dor que vem de se sentir indevidamente responsável por ele/ela. Por um lado, não conseguimos ver a coruja se debater, por outro não conseguimos soltar. Esta dinâmica nos puxa para baixo, nos faz perder o brilho.cEnquanto isso a coruja nunca esta satisfeita, não importa quantos peixes a foca tenta alimentar a ela.

Claro que quando estamos presos na síndrome da coruja, não vemos as coisas desta maneira. Nos sentimos negligenciados, isolados e fracos. Isto porque estamos dependendo de alguém para manejar nossos medos. Temos muitas demandas não ditas, e quando a expressamos, é de modo carente e necessitado. A síndrome da coruja nos torna infantil. Perdemos nossa confiança, achamos que não podemos fazer as coisas por nós mesmos, não sabemos lidar com nossa mente e emoções. Embora a coruja pareça fraca e dependente, é ela quem manda. É um pouco manipuladora, não quer limpar a própria sujeira. É uma atitude privilegiada pois ela tem a foca.

A ironia desta dinâmica, é que na maioria dos casos, quanto mais peixes a foca oferece, mais a coruja quer e mais insatisfeita esta. Este tipo de dependência e expectativa leva a cenas muito feias. É verdade que a foca pode temporariamente saciar a coruja, mas um respeito mutuo nunca nasce deste tipo de arranjo.

A diferença entre amor e Lenchak deve ser bem analisada. Amor e carinho pelo outro aquece o coração e nos torna generosos. Sentimentos de amor nascem naturalmente, não são o produto de pressões e demandas. A dinâmica Lenchak causa apego, insegurança e ressentimento.
Grandes praticantes sabem disto muito bem. Conhecem os buracos de Lenchak e protegem ferozmente sua independência. Trabalham de maneira inteligente com outros porque sabem que seja com seus pais, família ou quem seja, se caírem prezas desta dinâmica, perderão seu tempo (literalmente) e sua paz mental. Principalmente porque é uma relação baseada na neurose. Lenchak não lhe permite ajudar os outros e lhe arrasta para uma ´outra` vida.

(Baseado no livro "Light Comes Through:Buddhsit Teachings on Awakening to our Natural Intelligence", Shambhala Publications, 2008, de Dzigar Kongtrul-profesor de filosofia na Universidade de Naropa)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Votos principais de um Bodhisattva


1. não matar, encorajar outros a matar, regozijar ao matar.
2. não roubar ou encorajar outros a roubar.
3. não exercer a má conduta sexual.
4. não mentir, usar palavras falsas, fofocar, mas ter a fala correta.
5. não vender, fazer comércio com bebidas alcoólicas, drogas ou armas.
6. não revelar os defeitos da sangha.
7. não falar mal de outros enquanto se auto afirma.
8. não ser sovina ou abusivo.
9. não guardar raiva ou rancor.
10.não falar mal das três jóias.

O difícil para nós não é necessariamente deixar de matar ou roubar, ou deixar de vender substâncias que façam mal ao outro como o álcool, armas ou drogas.
Mas a mentira, mesmo que pequena, a fofoca, o tom abusivo, o abuso de poder, a raiva e o rancor fazem parte da vida humana, diariamente, semanalmente ou se temos muita sorte mensalmente. Depende do trabalho, das relações, do próprio karma. Todos dentro do Samsara, partilham destas negatividades.
Quando tomamos um voto, o que acontece é que a mente se torna muito mais atenta, este aspecto específico que é o voto se torna muito claro para nós e vemos ele surgir parece que muito mais vezes, como se tivéssemos mais vontade de mentir por exemplo, depois que tomamos o voto! Não temos mais vontade, apenas muito mais atenção direcionada a este aspecto da mente e da fala. Como quando decidimos alugar uma casa, de repente aparecem muitas placas de ´aluga-se`, e em lugares que nunca imaginamos, de fato não há mais placas, mas mais atenção de nossa parte.
Tomar votos é bom para a sociedade, imagine não precisar trancar a porta ou gastar dinheiro com alarmes porque sabemos que aqueles a nossa volta não roubam e não matam. Os animais também sentem esta energia do voto, em centros de retiro no campo, chegam muito perto das pessoas e das casas como se soubessem, aqui tudo bem. Quando temos votos sinceros geramos confiança, bem-estar e paz nos outros seres. Tomar votos requer muita honestidade e constantes upgrades.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Motivação e dedicação

Uma prática Mahayana não é considerada ´completa` sem duas ações, uma no começo e uma no final. A primeira ação é gerar nossa motivação, ou o trazer à mente, o porque de nossa prática, seja ela de dez minutos ou duas horas.
A segunda ação é a dedicação da prática, para paz mundial, a saúde de alguém, à iluminação, por exemplo. Sem a dedicação no final, a prática parece implodir sobre si mesma e morrer ali, sem mais frutos ou energia. Um pouco como receber um Óscar, pegar a estatueta e sair do palco, mudo.
A motivação inicial serve para trazer o que é de benefício para nós, para que seja benefício a todos os seres. Geramos então equanimidade, compaixão, amor, uma correta visão da realidade, a Bodhichitta e tentamos manter nossa mente neste ´trem` durante o percurso da prática.

Tsong Khapa diz:
“Temos que gerar estes pensamentos de motivação antes da sessão de meditação ou puja, mas apenas desenvolver-los não é o suficiente. Devemos manter-los constantes e contínuos durante a prática. Não só isso, como devemos tentar aumentar a motivação o máximo possível. É um erro pensar que já que são práticas preliminares é desnecessário ter uma contínua familiaridade com tais motivações, ou que seja desnecessário trabalhar o tempo todo para que não degenerem, ou que ´enviar` estas motivações no começo já basta.

Também é um erro pensar sobre estes aspectos da prática como migalhas ou meros detalhes que podem ser deixados de lado e ignorados enquanto nos concentramos na prática ´principal`. Pensar de qualquer uma destas maneiras significa não compreender o ponto essencial do caminho. Meditações sem os pensamentos iniciais, e principalmente sem a geração de Bodhichitta se tornam práticas que se parecem com o Dharma mas que não terminam no resultado desejado.

Meditar na Bodhichitta no começo de uma sessão e dedicar todo o mérito em direção à iluminação, com grandes ondas de preces no final da sessão, é na verdade um grande meio hábil (skilful means) que leva o mérito gerado durante a parte principal da prática ao objetivo e o torna inextinguível. Sendo este o caso, devemos estar certos de misturar estes dois aspectos com nossa mente, nunca nos permitindo agir negligentemente ou de qualquer maneira.”

(do livro Life & Teachings of Tsong Kapha, editado por R.Thurman)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Pratique como se seu cabelo estivesse em chamas


Todos os seres sencientes vagam continuamente pelo sobe e desce da vida, vida após vida. A razão pela qual temos estes problemas é que ainda não conseguimos realizar nosso propósito de vida.
O que é nosso propósito ou missão? No sentido mais básico, todos queremos paz e felicidade e queremos distancia do sofrimento. Embora experienciamos felicidade aqui e alí, não é uma felicidade que desconhece o sofrimento.
Colocamos muito esforço em ter conforto material e além do mais queremos conforto espiritual e mental. Mas mesmo quando achamos que estamos trabalhando por benefícios espirituais, se cavarmos profundamente poderemos descobrir que é simplesmente o apego – o apego por um estado de conforto espiritual ou emocional.

Buscamos um conforto rápido e eficiente. Não chegamos ainda na raiz do sofrimento e nem desenvolvemos a verdadeira causa da felicidade. Quando realizarmos isto, através da reflexão e meditação, poderemos começar a ver a verdadeira natureza do sofrimento e o fim do sofrimento. Daí em diante poderemos tomar a decisão de buscar a verdadeira paz, (a renúncia?) atingir o nirvana ou a iluminação, que quer dizer libertar a nós mesmos e aos outros de todos os sofrimentos e suas causas de uma vez por todas.

Porque não atingimos isto ainda? Porque ainda não percebemos o quão importante esta vida é. Não realizamos a capacidade infinita de nosso corpo humano e o quão difícil é encontrá-lo. Ao invés, nos mantemos ocupados correndo atrás da felicidade vida após vida, e fugindo do sofrimento.
Muitos de nós reclamam “não tenho tempo”, Gelek Rimpoche chama isso uma desculpa ´fina e estilosa`. Muitos gostam de dizer “estou muito ocupado/a” porque querem se sentir importantes. É uma ótima desculpa porque você pode evitar de fazer o que não quer fazer, você se sente importante, e todas as pessoas importantes são ocupadas então você pode se juntar a este grupo.

Gelek Rimpoche se refere a isto como ´Preguiça ocupada`. Temos este tipo de preguiça porque não reconhecemos nossas prioridades verdadeiras. Mesmo se temos tempo, colocamos nossa prática espiritual no fogo de trás. Nosso senso de urgência hoje em dia é monetário porque vivemos em uma época na qual temos que pagar as contas se não, não teremos nem luz e água.
Como praticantes espirituais devemos equilibrar nossas prioridades. Isto quer dizer, equilibrar as necessidades desta vida em particular com nossa meta espiritual. Temos que pagar as contas, cuidar da família e tornar nossa prática espiritual uma prioridade.
Mas para fazer isto devemos nos convencer que esta vida é importante, em algum nível sabemos disto, defendemos nossa vida da morte. Mas, em geral, nos mantemos ocupados resolvendo uma urgência após a outra e isto nos dá a sensação que estamos conseguindo manejar a vida.

Nossa maior riqueza nesta vida é a oportunidade de sermos seres humanos. Temos mentes brilhantes com capacidades extraordinárias, basta olhar para a ciência e tecnologia. Se fizermos o esforço de desenvolver-nos, nossa capacidade será ilimitada. Este é o exemplo que o Buddha e outros seres iluminados deixaram para nós.
Esta vida humana e esta mente são capazes de produzir o efeito que quisermos. Se queremos ser ricos, a vida humana o permite, ser um grande atleta, também, ser famoso idem e assim por diante. Se estamos satisfeitos com o resultado ou não, já é outra coisa, mas a vida humana é capaz de entregar a ´mercadoria`. Do nosso ponto de vista, podemos falhar, mas não será devido a incapacidade da vida humana, será porque não tiramos proveito dela.
Quando realizarmos a importância da vida nos livraremos do apego por gastar o tempo. Coisas que víamos como urgentes começam a ter menos peso, este é um sinal de que estamos começando a compreender.

Esta vida não é um presente, criamos causas maravilhosas para te-lá através de muito karma positivo e de pura moralidade. Devemos reconhecer a preciosidade desta vida, realizar a dificuldade de encontrar-la e a improbabilidade dela se repetir, a não ser que agirmos com pura moralidade e outras virtudes de agora em diante. Já é, quase tarde demais.

Precisamos concluir nossa missão através de uma relação contínua com os mestres, seres sagrados e ensinamentos. Praticando assim, todos os dias, seremos capazes de atingir a iluminação rapidamente. Se levar 3 minutos, que seja 3 minutos, se forem 3 anos, que sejam 3 anos. Mas que não sejam 3 vidas.

(Gelek Rimpoche, revista Buddhadharma, vol. 7)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Elos


"Tudo é uma grande corrente, onde cada elo deve ter qualidade, senão a corrente quebra e o resultado é sofrimento, guerra, conflito." - Marina

Concordo e adicionaria que cada ´elo`, deve ter uma boa intenção para com o outro elo.
O difícil é que os ventos ou furacões do karma as vezes nos levam juntos e só acordamos depois do vendaval. Aí entra a prática de ´Mindfulness` que gerencia a qualidade e intenção a cada momento, com cada elo.

Pensando melhor, a qualidade deve permear a intenção, a vontade, a sabedoria, a compaixão, o amor...direcionado ao outro. Então, se temos muita raiva e apego por exemplo, a qualidade de nossos elos será de acordo com a força destas negatividades. Sendo assim, uma pessoa raivosa pode expressar o seu gerenciamento de qualidade para com o próximo através do grito e não da porrada.

E os elos entre todos os aspectos internos de nossa psique?

(imagen: o ´Mandala do Cosmos` ou ´Cosmos Mandala`)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O teste da revista

"Os diferentes graus de empatia compassiva":


A : (Simplesmente a ignora)
B : Ei! Olha ela!
C : Você acha que ela precisa de ajuda?
D : Ah! Coitada, espero que alguém a ajude.
E : Talvez ela espere que você seja esta pessoa!
F : Talvez você possa ser esta pessoa!
G : Talvez devêssemos tentar ajudá-la agora!
H : Talvez eu devesse tentar ajudá -la primeiro, enquanto vocês ficam discutindo!
I : (Não comenta e vai ajudar)

Quem é você?
A, B, C, D, E, F, G, H ou I?
Esta na hora de dar um upgrade? "

eu estou entre o D e o G no momento.

Generosidade


A Perfeição da Generosidade é um dos caminhos ou atos do Bodhisattva.
Podemos dar o Dharma, Amor, Proteçao ou Bens Materiais.
Mas como o dar se torna uma Perfeição?
Vejamos o dar material aqui.
Talvez seja mais fácil ver o que não torna este ato uma Perfeição, digno de um Bodhisattva.

  1. Se nos achamos incrivelmente morais ao dar algo e criticamos os ´imorais` que não dão.
  2. Se arrepender do ato de dar ou sentir se inferior perante alguém que deu mais.
  3. Dar com parcialidade, fantasiando retribuições futuras como fama.
  4. Julgar que os outros estão sofrendo ´naturalmente`então não merecem.
  5. Não dar por medo de se tornar um indigente, ou seja, perder tudo, ficar pobre.
  6. Dar com atraso, depois de causar sofrimento e tormento.
  7. Dar mencionando sua ´bondade`.
  8. Dar em pequenas doses quando o certo seria dar de uma vez só.
  9. Quando envolve o roubo.
  10. Dar empregados ou serventes que não querem ´ser dados`.
  11. Dar depois de depreciar o pedido ou necessidade.
  12. Dar somente depois de se acumular por longo tempo.

Todas estas formas de Dar devem ser abandonadas.

Não se deve dar se:

-Causa depressão imediatamente depois do ato ou depois.
-Os pedintes não são amigáveis e cinicamente falam sobre a generosidade e caridade para lhe atormentar e/ou influenciá-lo a agir de uma forma contrária ao seu bom senso.
-A espíritos malignos, demónios, alguém sob o efeito de magia.

O estilo ´Robin Hood` de dar não é correto também, tirando de um para dar ao outro.
Nunca devemos perder a oportunidade de dar,
"O que não é dado, perde a validade. O que é dado, gera um tesouro"
(Paramitasamasa, I, 49-54)


O dar perfeito, se realiza quando o ato é acompanhado da mente que realiza a não existência inerente do doador, do receptor e do objeto. Quando perdemos algo, sofremos porque acreditamos que aquilo nos pertencia, quando na realidade não existe um ´eu` a quem o objeto pode pertencer e nem um objeto em si. Projetamos significado, existência própria, identidade e nossa própria felicidade em algo que não tem como sustentar nada disso. Nós existimos, mas não da maneira como pensamos que existimos, e isso é o que gera o sofrimento.

Dharma Sherlock Holmes


O Buddha descreveu o Dharma como "ehi passiko" que quer dizer em Pali, "venha ver" ou "venha investigar" e não "venha acreditar". Uma mente aberta e curiosa que questiona não é um impecilho para a prática do Dharma. Mas, uma mente que diz, isto não faz parte de como vejo as coisas porem não serve, é sinal de uma mente fechada e tal atitude traz grandes desvantagens aos que aspiram a qualquer prática espiritual.

O Buddha disse a um vilarejo que estava confuso sobre o que acreditar, afinal na época de Buddha existiam muitas teorias espirituais, doutrinas e mestres e eles não sabiam mais o que era verdade.
Disse: "Vocês tem o direito de estarem confusos, esta é uma situação confusa. Não confiem em algo simplesmente porque foi passado através de uma tradição, ou porque seus professores o dizem, ou porque os mais velhos o ensinaram assim, ou porque esta escrito em alguma escritura famosa. Quando verem e sentirem que é certo e verdadeiro, através de sua própria experiência, aí podem aceitar."

(Trechos de ´Reflections on a Mountain Lake` de Ani Tenzin Palmo-na foto acima em sua caverna de retiro onde ficou 12 anos)


"Não é preciso aceitar, mas também não é preciso rejeitar"- Lama Gangchen Rinpoche

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Origem do Treinamento Mental


A origem do Treinamento mental é atribuída ao mestre Indiano Atisa Dipamkara do monastério de Vikramasila. Atisa veio ao Tibet durante a 1a metade do século XI. Não esta claro se Atisa é pessoalmente responsável pela emergência dos ensinamentos do Treinamento Mental como o conhecemos hoje. Atisa nunca usou o termo ´Treinamento Mental`.

O texto mais antigo com este nome é o de Langri Thangpa, os "Oito Versos do Treinamento Mental" e o texto de Chekawa "7 pontos do Treinamento Mental".

Estes dois textos surgiram um século depois de Atisa.

Dromtonpa (discípulo principal de Atisa) se refere ao Treinamento mental em suas escritas.
Potowa (discípulo principal de Dromtonpa) assimila o Treinamento Mental diretamente à prática de Equalizar-se aos outros ou ´Equalizing self and others`.

Serlingpa é reconhecido como o mestre mais importante de Atisa, mesmo sendo da escola Cittamatra. Isto porque foi ele quem ensinou a Atisa sobre a mente de iluminação, ou Bodhicitta, o ensinamento mais importante do Mahayana, a porta de entrada para o Mahayana.

Serlingpa foi um grande mestre nos séculos IX e XI. 6 obras de Serlingpa estao incluídas no ´Tengyur` Tibetano incluindo um comentário do ´Ornamento de Clara Realização` de Maitreya e outro sobre ´O Guia do Bodhisattva` (Bodhicaryavatara) de Shantideva.

Sharawa e Chekawa organizaram os ensinamentos de Atisa sobre o Treinamento Mental na forma dos 7 Pontos.

Os 7 Pontos do Treinamento Mental se tornaram extremamente influentes, e após o século XV se tornaram sinónimos com o Treinamento Mental em sí.

Seguindo estes pontos, meditando, contemplando, estudando, pensando, podemos desenvolver a Bodhicitta.

meu portugues

não é muito bom..

Arhat Theravada

Um praticante Theravada no caminho de ver que medita constantemente na vacuidade atinge o caminho da meditação. Dentro do caminho da meditação existem 9 divisões ou estágios. Estes correspondem aos 9 níveis de obstáculos à liberaçao. Quando estes forem eliminados, o meditador se torna um Arhat e alcança o caminho do não mais aprender.

Este é um estado de imensa paz e felicidade, um êxtase. As aflições mentais como o apego, a raiva, a ignorância foram completamente eliminadas, a mente esta fresca e calma, como a lua. Livre da existência cíclica, este meditador atingiu a liberaçao ou o Nirvana.

Quando um praticante atinge o Nirvana, seu êxtase mental e físico se tornam incomensuráveis. Tem também uma habilidade imensa de beneficiar os outros, manifestando-se em centenas de diferentes formas, dando ensinamentos em vários lugares ao mesmo tempo. Ensina através da fala, das açoes e através dos poderes mentais. Permanece na absorção meditativa durante centenas ou milhares de anos e é pode ser considerado um objeto de refúgio.

Ainda não atingiu a Budeidade, que só pode ser atingida trilhando o caminho do Bodhisattva até o fim.

Um praticante então pode iniciar sua pratica no caminho do Bodhisattva ou atingir o estado elevado de um Arhat e em seguida seguir as praticas de um Bodhisattva.

(anotaçoes do "Treasury of Dharma" de Geshe Rabten)

Bodhicitta I

Bodhicitta quer dizer "mente de iluminação".
Bodhi: iluminação
Citta: mente

A Bodhicitta não é simplesmente um estado mental, uma atividade ou função, mas o emergir de algo de natureza totalmente diferente dentro de nossa experiência. É algo revolucionário. Uma experiência que re-orienta todo nosso ser.

A Bodhicitta é a mente que realmente deseja ser de benefício a todos os seres, e por isso se dedica a atingir a iluminação, para melhor servir. A Bodhicitta é uma força ativa, equilibrada entre entre a sabedoria e a compaixão.

O emergir da Bodhicitta depende de certas condiçoes mentais e espirituais. É o resultado de um preparo cuidadoso e disciplinado. Devemos tentar criar dentro de nós as condições para a Bodhicitta se manifestar, pouco a pouco eliminando e transformando nossos venenos mentais e nosso excessivo apego ao "eu".

"Quaisquer que sejam as experiências de sofrimento dos seres sencientes...surgem de danos causados a seres sencientes..."
(Bodhicittavivarana, Nagarjuna)